sábado, 2 de novembro de 2013

Bar do Candinho - Gamboa

Foi num dia de Carnaval em 2011, numa tarde extremamente quente, que eu e meu amigo Valdyr Alvarez andávamos errantes pelas ruas da Gamboa a procura do bloco Prata Preta, eu acho. Aliás já nem lembro se era mesmo no Carnaval de fato ou numa semana que o antecedia ou sucedia, enfim, isso definitivamente não é importante. A intensidade da minha embriaguez rivalizava com a do sol inclemente, cuja incidência do assombroso calor fazia com que nossas gargantas clamassem por algo gelado, e o resto do corpo por sombra pelo menos.

Encontramos o bloco já no cruzamento das ruas Rivadávia Correia e da Gamboa. Os ambulantes, bem poucos, não tinham bebidas geladas. Eu já havia aterrissado em Metchyubil, um continente distante demais, onde nem Marco Polo, Gulliver, Alexandre o Grande e Amyr klink conseguiram chegar.


Decidimos fazer o caminho de volta e procurar algum canto onde pudéssemos fazer um pouso e reavivar os ânimos. Na verdade eu era o mais prejudicado, minha necessidade ia além de água gelada e alguma comida.


Eu jamais havia andado pelas ruas da Gamboa, raramente passava de ônibus. O Valdyr muito menos, o Candango acabava de chegar ao Rio, vindo de Brasília, e estava assustado com os tipos sinistros que passavam por nós, com aquele pedaço tão importante da cidade, com muitos dos seus casarões e sobrados em ruínas, ruas esburacadas, calçamento precário, conferindo ao lugar o aspecto daquilo como de fato estava, abandonado. 


Quando eu parei num recuado para tirar uma água do joelho o menino quase infartou, perguntava se eu estava louco, ali naquele lugar, gente passando e eu lá me esvaziando na maior cara de pau.


Depois de alguns minutos de uma lenta caminhada e em meio a resmungos meus e dele, vimos um botequim. Tinha poucos clientes, todos, sem exceção, eram desses tipos que podemos afirmar se tratar de profissionais do copo. Sim, eu estava bêbado, mas sou bom fisionomista, já esses lances de efemérides não são muito comigo não.


Entramos, escolhemos uma mesa e nos acomodamos. Pedimos água e cerveja. As duas garrafas de água praticamente se evaporaram tamanha era a sede de cada um. Enchemos os copos de cerva e matamos de uma virada só, delícia, gelada, reconfortante, o restante foi de forma parcimoniosa. 


Perguntamos sobre o que comer e o senhor detrás do balcão, com seu olhar oblíquo, sugeriu os bolinhos de bacalhau e falou o preço, um Real. Numa situação comum, logo imaginaria que viria uma tranqueira daquelas, mas não era o caso, concordamos:



                                                            QUE MARAVILHA!



    Fotografia tirada em uma visita recente, no frasco de mel tinha pimenta.


Após a segunda cerveja e mais outra porção com dez bolinhos, aconteceu o inevitável, sempre que visito Metchyubil é assim, emborquei na mesa e dormi no ato, gostoso, sem cerimônias, e ronquei muito. Essa era a minha outra necessidade essencial, eu precisava dormir. Não sei quanto tempo durou, mas foi o suficiente pro Valdyr se emputecer. Foi engraçada a reação dele, todo polido o garoto, achou uma tremenda falta de educação da minha parte eu desmoronar daquele jeito e roncar alucinadamente.


Acordei recuperado, bebi mais água e pra alegria do menino polido dispensei o poste e fui ao banheiro, lavei o rosto com o resto da água gelada e sugeri outra cerva. Bebemos, pagamos e fomos embora. 


Até bem pouco tempo, um ano ou pouco mais, ignorava o nome daquele botequim cheio de galhos de folhas de louro amarrados e alhos trançados espalhados pelas paredes e teto. Onde havia no espelho redondo acima da pia do salão, escrito com tinta branca, dessas laváveis, uma das opções do cardápio: Filé de congro rosa, arroz e batata cozida.


O tempo passou e eu não havia esquecido da experiência, foi através do Raphael Vidal que fiquei sabendo se tratar do Bar do Candinho e que era possível comer muito bem e barato, ainda aqui no Rio-Paris-Genebra de Janeiro.


Finalmente retornei lá, eu já ia indo à caminho do Bar do Jóia quando me lembrei do Candinho, alterei o curso e atraquei lá. Mas, como escreveu o Michael Ende, em A História Sem Fim, essa é uma outra história e fica para uma outra ocasião.


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