domingo, 24 de novembro de 2013

Come mulher, come!

Dia desses compartilhei com amigos do Facebook o quanto admiro mulheres que comem sem reservas. Na ocasião eu estava no balcão do Bar Brasil, tomando um chope e comendo kassler frito. Uma mesa próxima estava ocupada por três homens e uma mulher, e que mulher.

Me chamou atenção a forma como ela, sem qualquer cerimônia, olhava as refeições das mesas vizinhas e das bandejas carregadas pelos garçons.

Suas reações eram magníficas: arregalava olhos ao máximo, respirava fundo, se abanava, ajeitava os cabelos, balançava as pernas, torcia as mãos, se inclinava à frente, um desvario magnífico de gestos.

Quando o pedido da mesa chegou, ela foi a primeira a servir-se, não por cavalheirismo dos rapazes, ela simples e naturalmente tomou a frente e mandou ver.

Pois bem, dias depois, fui agraciado em conhecer a Alice Hipolito na Laje da Jura, na ocasião da comilança em homenagem a derrubada parcial do elevado da perimetral.

Foi outra maravilha ver Alice comendo. Ela simplesmente começou atacando um siri, e sabem o que sobrou do bicho? Só as cascas.

Depois do siri ela se divertiu com um prato de bacalhau com batatas e leite de coco. Na sequência, num intervalo de dois minutos, foi a vez de um prato de nhoque com molho de camarão e queijo ralado.

Para fechar com chave de ouro, ela finalizou o banquete lambendo o prato. Duvida? Veja as imagens.

Tudo isso acompanhado de cerveja para empurrar tudo pra baixo, como diria Tyrion Lannister.

sábado, 23 de novembro de 2013

Café e Bar Casilhas - Copacabana


Foi numa Quarta-Feira, vestindo uma camisa amarela, o dia em que conheci o Café e Bar Casilhas. Foi num mapa astral que descobri que estes são o meu dia e cor da sorte.

Eu estava dando uma perambulada em busca de um novo canto para almoçar, fulo da vida com o lugar onde comia regularmente, não dava mais pra continuar.

Passando pelo Casilhas vi na placa que um dos pratos do dia era frango com quiabo e angú, ponto pra eles. Dei uma olhada em direção à cozinha e eis que surge, negra, majestosa, a cozinheira, lenço branco muito bem ajustado cobrindo todo o cabelo, atrás de si, penduradas em pregos na parede, algumas panelas ariadíssimas. Pronto, seria ali.

Pedi o frango com quiabo, que delícia, papei tudo. Voltei na Quinta e Sexta, comi bem novamente.


                                     
                                                        Seu Rafael e Dona Creuza

Almoço lá quase todos os dias, quando chego o Rafael grita: _ "Olha ele aí, Creuza, o mineirinho, seu filho!".

A comida é muito boa, do tipo caseira mesmo, que vai te fazer lembrar a da tua mãe ou avó com certeza e o preço bem honesto.

O espaço é pequeno, a lateral do balcão é a área destinada às refeições, onde há bancos altos. Gosto de chegar até as 12:15 pelo menos, depois fica muito disputado. Mas, pode-se também comer na parte da frente, menos confortável, pois, não há espaço para as pernas se você resolver comer sentado, de pé seria melhor.

É o tipo de lugar que se pode indicar para aqueles visitantes que querem comer onde o povo local come, sabe? 




O carré com couve e tutu também é servido nas Quartas-feiras, o angú é exclusivo para o frango com quiabo, porém, como já sou amigo da casa há um tempo e "filho" da Dona Creuza, sempre ganho uma porção.



Café e Bar Casilhas
Rua Siqueira Campos, 143 lj. 13
Tel.: 21-25489582

Não aceita cartões.

Funciona de Segunda à Domingo, porém, as refeições são servidas apenas de Segunda à Sexta.






quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Adega D'ouro - Vicente de Carvalho

Sempre ouvi comentários elogiosos a respeito da Adega D'ouro. E era o Carlos Rebelo, o Iracundo, quem mais falava com emocionante entusiasmo. Ressaltava o espetáculo que era os garçons derramarem desbragadamente o azeite sobre a comida e o quanto o bacalhau era espetacular. Sempre após o relato ele mergulhava num silêncio profundo, como que lembrando de coisas que não quisesse dizer. Eu ficava admirado com aquela reação. E sabem como é papo de botequim e principalmente de Cariocas, sempre terminava com um vamos marcar, pô!.

A casa funciona desde a sua inauguração, em 1966, no mesmo endereço em Vicente de Carvalho. Com a ótima, farta e única receita de bacalhau servida e seus espetaculares bolinhos, desde aquela época ganhou notoriedade. Na parede próxima ao balcão de madeira em formato de jota invertido há reportagens e fotografias antigas.

Não se espante, é da forma como disse acima, só há um prato de bacalhau, denominado "à moda da casa", o que varia são os tamanhos: executivo, meio e completo, e são todos muito fartos. Como eu fui sozinho, pedi o executivo. Este é indicado para duas pessoas, para quem quer levar um pouco pra casa ou para quem come a beça mesmo. E sempre abram a mesa com alguns bolinhos, na proporção de pelo menos dois para cada pessoa, já que o bacalhau não demora muito a sair. Vantagem excepcional de se trabalhar com este sistema de prato único.

A apresentação é a seguinte: bacalhau empanado frito, batatas cozidas na água do bacalhau e a salada de cebola, tomate, palmito juçara do tipo "tolete", aquele grosso (grafado também como jussara) e azeitonas pretas.

Os bolinhos são realmente fenomenais no sabor, aparência e recheio. Extremamente consistentes, pois, são "bem apertados" durante a feitura, conforme disse a Dona Natividade, esposa do atencioso Seu Neca, o proprietário do lugar. Cada bolinho pesa cerca de sessenta gramas e tem uma azeitona preta com caroço dentro, cuidado!. 

O criador do prato foi o Seu Manuel, o Chacrinha ( in memoriam ). Que também detém o mérito da receita do bolinho.

Há vinte anos mandando da cozinha para as mesas e balcão os generosos pratos e os substanciosos bolinhos, está o José Renato, mais conhecido como Bigode. Nas fotografias antigas pode-se conferir o quão portentoso era o bigode do cara e que com certeza causaria inveja em Nietzsche. Atualmente é menor e faz extensão com um cavanhaque. Não me contive e procurei saber o motivo de não ostentar mais o consagrado bigode:

 "_ É pra minha mulher não enjoar. É preciso mudar o visual."


Aí está a fera, que com a manha de ficar mudando o visual mantém o casamento com a Dona Jaqueline bem sólido. Já são vinte e três anos juntos, desde o namoro. Vale filosofar: mudar para manter!


Mais um que dá aula de simpatia e cordialidade é o garçom Julinho da Adelaide, que na verdade se chama Luiz Guilherme, está há dez anos na Adega.


Dona Natividade e seu olhar atento. A varanda com várias mesas lotadas. O balcão. ( Pena a foto ter saído ruim, depois modifico e incluo alguma com os bolinhos que esqueci de fotografar. )


Fui à Adega três vezes em uma semana. Na primeira, numa noite de Quinta-Feira, apenas bebi cerveja, comi três bolinhos e meia salada de palmito, que é enorme!. Enquanto ia sentindo o clima da casa. É incrível a quantidade de pessoas que passam para comprar bolinhos e levar para casa. 

Conversei com o Seu Neca que me explicou a composição do prato e recomendou que sozinho eu deveria pedir o executivo. 

Voltei no dia seguinte para almoçar. Deixei para ir num horário o mais adiantado possível, aguentei até as 14:00 e me pirei de Acari para lá. Ao me aproximar vi todas as mesas da varanda ocupadas e foi inevitável pensar que o acolhedor balcão estaria abarrotado, que nada! Ninguém no balcão! Oba!

Sentei-me na penúltima posição do fundo. Pedi uma tônica, o executivo e fiquei curtindo o movimento. Dali via pratos e pratos serem colocados na janelinha e os garçons passando e recolhendo-os para distribuição dos pedidos. 

Num golpe de muita sorte, quando o meu ficou pronto, fui servido pelo próprio Bigode que de forma solene dispôs a toalha de papel e os pratos, meio solene guindou uma maciça posta de bacalhau, uma batata e pôs num prato, para em seguida, com leve brutalidade dar uns golpes com o garfo para que se espatifassem um pouco e derramou o azeite generosamente, bateu com a lata no balcão, me desejou bom apetite e voltou para a cozinha.


Lá usam duas marcas de azeite, Serrata e Mondegão. No balcão só tinha o Serrata, perguntei se havia algum Mondegão dando sopa e logo o Bigode pegou uma lata zero-bala na dispensa para me servir.



Agradeci e comecei a comer. Realmente é excelente, a fama está muito bem justificada. O bacalhau bem dessalgado, a batata no ponto e com a simples manha de ser cozida com uma das águas do demolho, simples assim, mas que muitos lugares negligenciam de forma inaceitável. Comi com prazer, com certeza voltaria, e voltei. Mas não foi para comer, queria apurar a questão do bigode do Bigode, aproveitei e bebi uma gelada. 

Durante todo o ano vende-se massa para bolinho, bacalhau salgado, dessalgado e semi-pronto. Com a aproximação das comemorações de fim de ano a procura aumenta muito, assim como também a demanda de vários grupos que querem fazer lá seus banquetes de confraternização. Por isso, nesta época são contratados três funcionários temporários para ajudar a dar conta do alto movimento.

Serviço desta matéria:

Bacalhau executivo - R$70,00
Bolinhos - R$3,00 a unidade
Cerveja - R$7,00 a Heineken. Existem outras opções e talvez alguma variação de preço
Massa para bolinho - R$40,00 o quilo. Do jeito da Adega, dá pra fazer dezessete unidades.

Meia salada de palmito - R$19,00

Faça contato com eles para maiores informações e atualizações de preços:

Telefone: 21-24821571

Aceita cartões de débito e crédito

Funcionamento:

Segunda à Sexta - das 08:00 às 22:00
Sábados - 08:00 às 24:00
Domingos - 08:00 às 16:00

Localização:

Avenida Pastor Martin Luther King Jr , 6031 loja A ( antiga av. Automóvel Clube )
Referência: Ao lado da estação do metrô

Estacionamento: Sei lá!













sábado, 2 de novembro de 2013

Bar do Candinho - Gamboa

Foi num dia de Carnaval em 2011, numa tarde extremamente quente, que eu e meu amigo Valdyr Alvarez andávamos errantes pelas ruas da Gamboa a procura do bloco Prata Preta, eu acho. Aliás já nem lembro se era mesmo no Carnaval de fato ou numa semana que o antecedia ou sucedia, enfim, isso definitivamente não é importante. A intensidade da minha embriaguez rivalizava com a do sol inclemente, cuja incidência do assombroso calor fazia com que nossas gargantas clamassem por algo gelado, e o resto do corpo por sombra pelo menos.

Encontramos o bloco já no cruzamento das ruas Rivadávia Correia e da Gamboa. Os ambulantes, bem poucos, não tinham bebidas geladas. Eu já havia aterrissado em Metchyubil, um continente distante demais, onde nem Marco Polo, Gulliver, Alexandre o Grande e Amyr klink conseguiram chegar.


Decidimos fazer o caminho de volta e procurar algum canto onde pudéssemos fazer um pouso e reavivar os ânimos. Na verdade eu era o mais prejudicado, minha necessidade ia além de água gelada e alguma comida.


Eu jamais havia andado pelas ruas da Gamboa, raramente passava de ônibus. O Valdyr muito menos, o Candango acabava de chegar ao Rio, vindo de Brasília, e estava assustado com os tipos sinistros que passavam por nós, com aquele pedaço tão importante da cidade, com muitos dos seus casarões e sobrados em ruínas, ruas esburacadas, calçamento precário, conferindo ao lugar o aspecto daquilo como de fato estava, abandonado. 


Quando eu parei num recuado para tirar uma água do joelho o menino quase infartou, perguntava se eu estava louco, ali naquele lugar, gente passando e eu lá me esvaziando na maior cara de pau.


Depois de alguns minutos de uma lenta caminhada e em meio a resmungos meus e dele, vimos um botequim. Tinha poucos clientes, todos, sem exceção, eram desses tipos que podemos afirmar se tratar de profissionais do copo. Sim, eu estava bêbado, mas sou bom fisionomista, já esses lances de efemérides não são muito comigo não.


Entramos, escolhemos uma mesa e nos acomodamos. Pedimos água e cerveja. As duas garrafas de água praticamente se evaporaram tamanha era a sede de cada um. Enchemos os copos de cerva e matamos de uma virada só, delícia, gelada, reconfortante, o restante foi de forma parcimoniosa. 


Perguntamos sobre o que comer e o senhor detrás do balcão, com seu olhar oblíquo, sugeriu os bolinhos de bacalhau e falou o preço, um Real. Numa situação comum, logo imaginaria que viria uma tranqueira daquelas, mas não era o caso, concordamos:



                                                            QUE MARAVILHA!



    Fotografia tirada em uma visita recente, no frasco de mel tinha pimenta.


Após a segunda cerveja e mais outra porção com dez bolinhos, aconteceu o inevitável, sempre que visito Metchyubil é assim, emborquei na mesa e dormi no ato, gostoso, sem cerimônias, e ronquei muito. Essa era a minha outra necessidade essencial, eu precisava dormir. Não sei quanto tempo durou, mas foi o suficiente pro Valdyr se emputecer. Foi engraçada a reação dele, todo polido o garoto, achou uma tremenda falta de educação da minha parte eu desmoronar daquele jeito e roncar alucinadamente.


Acordei recuperado, bebi mais água e pra alegria do menino polido dispensei o poste e fui ao banheiro, lavei o rosto com o resto da água gelada e sugeri outra cerva. Bebemos, pagamos e fomos embora. 


Até bem pouco tempo, um ano ou pouco mais, ignorava o nome daquele botequim cheio de galhos de folhas de louro amarrados e alhos trançados espalhados pelas paredes e teto. Onde havia no espelho redondo acima da pia do salão, escrito com tinta branca, dessas laváveis, uma das opções do cardápio: Filé de congro rosa, arroz e batata cozida.


O tempo passou e eu não havia esquecido da experiência, foi através do Raphael Vidal que fiquei sabendo se tratar do Bar do Candinho e que era possível comer muito bem e barato, ainda aqui no Rio-Paris-Genebra de Janeiro.


Finalmente retornei lá, eu já ia indo à caminho do Bar do Jóia quando me lembrei do Candinho, alterei o curso e atraquei lá. Mas, como escreveu o Michael Ende, em A História Sem Fim, essa é uma outra história e fica para uma outra ocasião.


sábado, 19 de outubro de 2013

Adega Tudo do Mar - Marechal Hermes


Foi meu amigo Ivan Oliveira quem me deu a dica sobre o lugar. Na ocasião foi para ressaltar especialmente o caldo de piranha servido ali. Passado algum tempo, finalmente tive oportunidade de ir conhecer.

Estava eu em Madureira quando me lembrei da Adega, o meu compromisso lá seria rápido e eu teria boa parte do dia livre, era uma Quinta-Feira. Já acomodado num ônibus para Marechal Hermes telefonei para o Ivan perguntando a direção do lugar. Passadas as coordenadas, me concentrei em alguns assuntos para tentar dissipar uma ansiedade infantil que se apodera de mim numa hora como essa. Lá ia eu sozinho, sem o anfitrião que seria o Ivan, pois, combinamos de irmos juntos um dia, com sua formidável prole, três crianças realmente bacanas.

A viagem foi curta, como eu já sabia. Ao desembarcar, ainda por conta da ansiedade que não havia sido domada, perguntei a uma senhora que estava no ônibus se ela conhecia a tal Adega, no que ela respondeu que só podia ser a do Celso, que passaria em frente e eu poderia ir com ela.

Em uma caminhada de cinco minutos fiquei sabendo um bocado sobre a Dona Yolanda. Serventuária aposentada da justiça federal, casada, sofrendo dores horríveis nos rins ultimamente, marido aposentado, também não tão bem da saúde, insatisfeita com o fim do serviço de ambulatório do Hospital Carlos Chagas e também com “a UPA que não serve de porcaria nenhuma”, mas muitíssimo orgulhosa do bairro em que mora há muitos anos. Disse: “_ Sabe meu filho, Aqui não tem essa coisa de droga não, nem de milícia, é uma área militar, e eles (os militares) não deixam isso chegar aqui não!”

Chegando ao local ela entrou comigo e logo alardeou: “_Ô Céelsu, Céelsu, olha! Esse rapaz veio me perguntar se eu conhecia uma adega assim assim, eu disse, só pode ser a do Celso, ó ele aqui, tchau, tchau, aproveita meu filho.”

Segui direitinho a recomendação da Dona Yolanda.

Àquela hora da tarde eu era o único cliente no salão, gostei daquilo, poderia fazer perguntas à vontade.

Apresentei-me ao Seu Celso e continuei de pé, falei da indicação do Ivan e logo fui informado de que não havia o caldo de piranha. A explicação pela falta me deixou feliz. Ele estava esperando o peixe chegar do Mato Grosso, que a única alternativa nesses casos seria a utilização da pasta de piranha, digamos, uma espécie de tablete destes que existem de carne, frango, picanha, porco, peixe, etc. Mas, ele descarta veementemente, não ficava bom, preferia ele mesmo trabalhar o peixe. Pronto, Seu Celso acabara de ganhar um admirador.


Antes de sentar-me, na cara de pau abri a geladeira e peguei uma cerva. Pedi que ele me sugerisse algo a comer, declinou elegantemente pedindo que eu desse uma olhada no cardápio. A primeira pedida foi rã frita acebolada. Estava ótima, fresquinha, no ponto, a carne suculentíssima se desfazendo facilmente na boca.



Terminada a rã, olhei novamente o cardápio, não resisti e pedi trilhas “sabor camarão”. Estavam uma beleza, muito boas mesmo, fritinhas no ponto, sequinhas, bem temperadas, dispensei o limão e só usei um pouco de azeite. 


Segui bebendo uma gelada e voltei a consultar o cardápio. Olhava e tornava a olhar e logo fui socorrido pela Patrícia, que trabalha lá.

“_Prove a casquinha de siri, são feitas pelo Seu Celso.”

Concordei no ato. Pouco tempo depois, pela terceira vez ouvia a campanhia de som grave avisando que o meu pedido estava pronto, eu ainda era o único cliente, as atenções estavam voltadas para mim.

Colocada sobre a mesa, fiquei encantado com o que vi. O recheio formava um pequeno morrinho com dois tons de dourado e um cheiro leve pairava sobre a mesa. Com a ponta dos dedos alisei as laterais, peguei-a com cuidado e pousei na palma de uma mão que rapidamente se encheu de calor. Voltei com a danada ao prato, suspirei. Eu olhava aquela concha verdadeiramente emocionado, sabia que algo realmente especial estava à minha frente. Peguei o garfo e rompi a crocância. O cheiro leve deu lugar a um perfume intenso de mar e temperos, olhei o recheio até então desconhecido e apreciei a fumaça se espiralando, levei o garfo à boca e me derreti antes do recheio, voltei a si e pedi outra antes mesmo da segunda garfada.



Satisfeito com as casquinhas, terminei a cerveja e comecei a fotografar os ambientes, são três, não muito grandes. A calçada faz às vezes de varanda, tem plantas altas ao longo do meio fio, ficando as laterais livres; o pequeno salão em frente ao balcão do bar; o salão lateral, onde há mais lugares, que desemboca nos fundos da casa, onde estão a cozinha e os banheiros.

Terminada a tarefa, voltei à mesa e resolvi pedir camarões, há duas versões, frito ou no vapor. Conversei com o Seu Celso e perguntei se poderia ser meia de cada já que ambas têm o mesmo preço. A resposta foi sim.

Indico com louvor o camarão no vapor, há pedacinhos de alho, cebola, pimentão e tomate.

Os camarões eu comi bebericando uma capirinha tradicional, mas com pouco açúcar.



Após os camarões já estava bem satisfeito, mas também muito empolgado com o lugar e por estar comendo tão bem. Decidimos, - eu e a caipirinha - que era hora do caldo de siri, um caldinho cairia bem com certeza, pedi.

Servido numa caneca, ele vem bem acomodado e espesso lá dentro, coroado com salpicos de coentro. Provei uma colherada e aprovei, muito bom. Continuei comendo e me deparei com um camarão, opa! Até terminar a caneca tinham sido três camarões inteiros, caramba! O caldo foi aprovado mais uma vez.



Foi uma tarde inesquecível, que não seria possível sem as pessoas que fazem dali um lugar especial. Meus agradecimentos ao Seu Celso, a Patrícia e a Dona Geralda, que é cozinheira ali há mais de vinte anos. No primeiro turno há outra cozinheira.

Aí está a Dona Geralda, moradora de Bento Ribeiro.



Um pouco mais do lugar.



Uma cabeça de onça empalhada, apenas os olhos são artificiais.


Tem uma pequena biblioteca, fique à vontade para doar livros e mesmo levar algum pra casa, mas você sabe da sua obrigação de ir devolver, né?





É impossível falar deste lugar em apenas uma visita, em breve teremos outra postagem, muito breve mesmo.

A Adega Tudo do Mar fica em Marechal Hermes, na rua general Savaget, 67. Próximo ao Hospital Carlos Chagas. Atualmente funciona de Terça à Sábado, abre as 14h e encerra as 24h. Toda Sexta-Feira rola uma seresta das 20h às 00h. Não são aceitos tickets ou cartões, só grana. O telefone é 24504411







sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Exercendo o Desapego

Exercer o desapego é um grande desafio. Deixar de ter domínio sobre algo ou alguém, demanda coragem e maturidade para lançar-se ao novo. A dificuldade da renúncia pertence única e exclusivamente ao detentor daquilo de que se deseja libertar ou libertar-se.

O desapego vai além de objetos e pessoas. Temos hábitos e convicções, que se desdobram em manias e estilo de vida. Portanto, isso significa desapegar-se de si próprio, não se engane.

Acredito que se tratando do fim de uma relação íntima ou de amizade, haverá invariavelmente duas dores e muitos pesares. Caberá ao outro a surpresa, o desalento, a dor mais forte, porém, devemos lembrar que o processo de decisão pelo qual passou o agora desinteressado pode ter sido, sim, muito doloroso também.


Quando estamos de fora e não somos atingidos pela angústia e dúvida alheia, é muito fácil emitir opinião, e muitas vezes não nos colocamos no lugar do outro, fato. Colocar em prática a alteridade é outro desafio.

Um exemplo corriqueiro é o apego das crianças com certos brinquedos preferidos. Pode ser um carrinho quebrado, uma boneca já sem pernas ou uma peteca sem penas, e daí? Ainda é importante para elas, embora não desempenhem tão bem o papel para o qual foram criados. Um dia, e isso pode levar muito tempo, a criança ou aquele que o foi, jogará aquilo fora e ainda se perguntará por que cargas d’água manteve aquilo por tanto tempo.



Há quase oito anos uso barba e bigode. Deixei-os crescer para atender um pedido especial. No começo estranhei um pouco, depois me acostumei, me adequei e logo estava apegado. Olhava com certo desdém os homens que modelavam suas barbas, deixavam-nas angulosas, cheias de salamaleques. As piores e que ainda acho horríveis são as de linha fina ao estilo bigodinho Rio x São Paulo, que é muito legal, e pra mim só combina e fica bem em velhos negros. Nem tudo é para todos, muito menos um ar marginal.

Pois bem, ultimamente vinha sendo instigado pelo meu amigo Bernardo Fantini a conhecer o “Seu Jairo”, barbeiro dos bons. Eu sempre dizia que não precisava, que o estilo já estava definido, nada de ângulos, e que o “Seu Lourival” estava dando conta, mesmo nunca lembrando que o pé era quadrado, como ele havia feito uma quinzena antes e que ainda estava lá, perceptível. O cabelo e a barba seriam sempre daquele jeito, até que um dia...

Rio de Janeiro, nove de Outubro de dois mil e treze, Rua da Conceição, Bar do Jóia, pela hora do almoço.

Olho para o Bernado e disparo: _Vamos no Seu Jairo.

_ Pô, tô cansadão, preciso torar! Bora lá em casa, dou uma torada de uma hora e basta.

_Cara, deixa disso, vamos nessa, decidi, é hoje.

Mais alguma relutância e...

Tijuca, Praça Varnhagen 7 –Loja F, Fernando Albuquerque Barbearia.

De cara descubro que o Seu Jairo é um negão de quase dois metros e bem mais jovem que eu. Sorriso farto na cara, jeitão malandreado talhado em Cavalcante e Guadalupe, de fala fácil e bem fluída, agradável até a medula e que prefere ser chamado de Jay, o hábil Bernardo criou o "Seu Jairo", sem jamais dizer como é a figura do cara, e a surpresa sempre vem à tona, todos imaginam um cara já coroa e tal. Pronto! Fui arrebatado pela figura.

Eis aí o cara.



Terminado o “trato” que ele dava ao cara da vez, vira pra mim e pergunta o que eu tinha em mente.

Eu disse que era a critério dele, não tinha pensado em nada, que estava ali disposto ao seu talento.

_Tranquilo, desde a hora em que você chegou eu vinha trabalhando um lance aqui na cabeça, já sei o que vai ser.

_Beleza cumpadre, vamos nessa.

Resultado.



Então foi isso. Me desapeguei do barbeiro antigo, permiti modelagem na barba, no corte do cabelo e até uma leve química para hidratar e dar uma soltada na carapinha. Já o pé, este continua quadrado, nisso, eu e o Seu Lourival acertamos.

Serviço:

Seu Jairo atende na Fernando Albuquerque Barbearia , Pça Varnhagen , nº 7 loja F - tel.: 21-35982072 e 35982073.
Funciona de Segunda à Sábado, mas o Seu Jairo encerra o expediente mais cedo aos Sábados. Ele dá plantão no salão da mãe lá em Guadalupe.
Fernando Albuquerque é o proprietário do lugar e profissional competente.
Por R$50,00 você faz barba, cabelo, bigode, lavagem e química se for preciso.
Rola umas cervas na faixa, seja parcimonioso!












domingo, 6 de outubro de 2013

A Busca

É difícil dizer desde quando tenho vontade de escrever e mostrar - Sempre fui assombrado pela dúvida ou agraciado por ela desde menino, pré-adolescente, adolescente, pré-adulto, e agora adulto. Assim continuarei até virar pós-menino. Seja por uma inclinação natural à Filosofia ou por ter nascido sob o signo de Gêmeos - nunca soube ao certo como, sobre, para ou por quê.

Muitas idéias vieram e se foram velozes como fogos-fátuos. Outras permaneciam boiando, aguardando resgate e atenção, que ao menos fossem transportadas para algum rascunho e deixados em algum canto tal qual fazemos com fotografias ordinárias, que jazem entre páginas de algum livro ou coisa que o valha, e que sabemos não folhearemos ou jamais tocaremos novamente, mas que nunca estavam à mão e que eu não corria para providenciar.

A impressão - não certeza - que tenho, é que estas idéias ainda estão em mim, em algum escaninho do grande arquivo-central-cerebral. Preciso chegar até ele, aspirar o pó e vasculhar os cantinhos. Mas, e se este arquivo estiver inundado? Melhor levar um escafandro. Se estiver incendiado? Não titubeio, faço as vezes do aspirador de pó e mando as cinzas narinas adentro, acreditando sempre que a droga que produzi é boa, que vai dar onda, que colocarei as coisas no papel e que você vai consumir, seja lá o que for. Daí o nome do blog: Por Todo Canto. Em cada canto - geográfico - várias coisas, até mesmo canto - sonoro - pode haver palavra, gestos, cheiros, paladares, arrepios, gozo, redenção, vingança, choro, sorriso, apreensão, devaneio, embriaguez, brasa, farelo de pão, batom quebrado, abelhas, limão, fumaça, etc. Em cada canto pode haver uma só coisa, sim, e podemos inventar caso só haja o canto, o que é o primordial. O canto é a possibilidade, é tangível, é macro, é o que permite.


O canto é sempre um bom lugar, conforta. É refúgio, personifica o anseio de solução ou a vontade de prolongamento de um estado físico ou emocional, ou ambos. Pense nas vezes em que estando aborrecido, cansado, apreensivo, com vontades homicidas ou piores, você dizia de si para si ou para outro: Tudo o que eu preciso é ficar sozinho no meu canto.

Isso vale para as situações boas, claro. Você está muito feliz, sozinho ou não, e qual a vontade? Permanecer ali naquele canto, com aquelas sensações.

Seja bem vindo este Canto é nosso.

Ronaldo Dias